sábado

O contra-senso

Ando lacônica demais para ter um blog! Ou talvez isso seja apenas um reflexo do quão anti-social eu estou!


terça-feira

Como la Cigarra


Tantas veces me mataron,
tantas veces me morí,
sin embargo estoy aquí
resucitando.
Gracias doy a la desgracia
y a la mano con puñal,
porque me mató tan mal,
y seguí cantando.
Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.
Tantas veces me borraron,
tantas desaparecí,
a mi propio entierro fui,
solo y llorando.
Hice un nudo del pañuelo,
pero me olvidé después
que no era la única vez
y seguí cantando.
Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.
Tantas veces te mataron,
tantas resucitarás
cuántas noches pasarás
desesperando.
Y a la hora del naufragio
y a la de la oscuridad
alguien te rescatará,
para ir cantando.
Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.
Composição: María Elena Walsh

Confissões de Útero

Menina... menina.... meus sonhos são de menina
Meus atos são ainda ingênuos... intuitivos...
Me faltaria um pouco de objetividade?!
Ou gosto por tarefas?!
Talvez se eu gostasse menos de filmes....
De histórias, Heroínas, canções...
Talvez se eu gostasse menos das minhas histórias, heroínas e canções....
Se ao menos eu conseguisse coincidir os dois mundos... até eles deixarem de ser dois
Até eles deixarem de ser....
Se meu mundo fosse o seu, e o seu o meu...
O nosso o dos outros e os outros... não fossem nada além de mim mesma!
Não teria mais que me preocupar... não haveria meu
Não haveria seu...
Não existiria EU.

quarta-feira

O começo

Ela olhava para a janela e não pensava nada, não conseguia pensar em nada. Era só o sol que lhe aquecia o corpo e o azul que não acabava mais. As janelas do prédio vizinho e o som do caminhão que passava na rua de trás. O pátio onde brincavam as crianças e o beiral onde apoiava os braços. Suas unhas compridas de mais e sua pele amarelada.
- Preciso tomar sol- foi o primeiro pensamento do dia.
Seguiu para o banheiro exatamente como fazia todas as manhãs, xixi, roupas no chão, chuveiro. Parada no box acertava a temperatura da água, e como sempre, passava a maior parte do tempo de seu banho nesse processo. A água caía em suas mãos, sua barriga, seus pés, ela não se movia, as vezes abria ou fechava um pouco uma das torneiras.
Aos poucos se lembrava que outro dia começava, e os primeiros pensamentos a invadiam. Literalmente a invadiam. Todos de uma só vez. Seus planejamentos se misturavam a seus devaneios e ia lutando para manter alguma linearidade. Na maioria das vezes não conseguia, apenas pulava de ponto para ponto, retomava o que a tinha lhe mobilizado antes de passar o xampu, o que estava planejando enquanto se ensaboava, ou o que queria quando lavava o rosto.
A imagem do homem que expulsara de sua cama no dia anterior tomou a cena, e um arrepio lhe subia pela barriga. Lembrava-se de cada detalhe da conversa, o raciocínio que teve que a levou a decisão final de ejetá-lo para fora de sua casa, o como ele reagira, o que respondera. Era tudo muito estranho. Sentia um misto de culpa, arrependimento e alivio.
- Eu não ia dar conta - e imaginou ele na mesa tomando café da manhã com sua mãe.
A palavra café a fez lembrar-se de seu trabalho. Imediatamente havia sido tele transportada para o corredor onde todos tomam o café frio da garrafa térmica – ai o que será que foi decidido na reunião? Eu preciso de um novo emprego. – sentia um sono terrível, não tinha dormido nem 3 horas.
Seu estômago embrulhava. O cheiro e o gosto do exilado lhe fazia voltar a reviver a cena da cama, mas agora lembrava dele aninhado em seu corpo de forma que se sentira um travesseiro – ele é muito grande.- tentava justificar a vontade que sentiu de que ele se transformasse num enorme edredom, e seu desejo que a vida nada mudasse depois que acordasse. – fiz bem, fiz bem. Mas lembrava do olhar carinhoso que lhe lançara algumas vezes e tinha a certeza que não tinha mais volta.
–fiz bem.- repetia na ilusão de que amenizaria o enjôo que agora parecia insustentável. Mas já estava no ônibus, no meio do transito infernal – caminho sem volta - pensava ingenuamente, achando que se referia apenas ao fato de estar presa entre aquela procissão de carros.
Preocupava-se com o restante de seu dia, e lhe doía a cabeça – por que deixei ir tão longe, sabia que tinha que acordar cedo.
As cenas de anos atrás, quando Juliano ainda habitava sua casa e lhe roubava o espaço da cama estavam vivas novamente. pela primeira vez entendeu porque mantivera o habito por tanto tempo de dormir com dois travesseiros num colchão de solteiro. Era o espaço reservado para o outro.
O problema é que já fazia um tempo que em sua cama só havia lugar para uma cabeça: a sua. Só ela poderia descansar ali, todo seu dia de trabalho, todos seus planos para o futuro, todos os seus sonhos, fantasias, devaneios.
Mais uma vez lhe arrepiava o estômago.
Tentava enumerar as coisas importantes que deveria fazer no dia. Sabia que aquele seria um daqueles dias que seu corpo não a deixaria parar de pensar, e esforçava-se para esquecer que respirava e sentir-se como qualquer outro ser humano. Olhava as pessoas sacudindo no ônibus e as invejava. Viver era tão normal para elas. Os problemas eram problemas e só.
As vezes torcia para enlouquecer de vez, seria mais fácil abandonar-se e deixar-se esfacelar, parar de lutar constantemente, e não ter que nunca mais precisar puxar remendar, reforçar, costurar. Ela era uma falha tectônica. Uma fenda tectônica para ser mais especifica. Se ao menos as placas estivessem indo de encontro e que delas nascessem um morro, uma cordilheira. Não. Entre elas um buraco aumentava, e enchia-se de água.
Estava cansada. Tinha vontade de gritar.
Uma pessoa ao seu lado se assustou com seu suspiro enfezado, sorriu como quem pede desculpas e decidiu acompanhar os quilômetros da rodovia. Faltavam dois, podia começar a preparar-se para descer. Mais uma vez entraria pelo portão prateado da clínica, assinaria seu nome na entrada, subiria aquela ladeira ofegante e desejaria tomar um copo d’água.

As vezes eu me afasto de mim. Duas cabeças pensam melhor do que uma!